Cláudia Andujar

 

Seus retratos em preto e branco afogado na névoa são distantes dos registros antropológicos comum. São retrato de um amor que ergue dois braços pálidos e suíços, empunhando uma câmera, entre um povo moreno, vermelho, pintado. Cláudia Andujar nasceu na Suiça e cresceu na Transilvânia, encontrou sua oca, sua tribo, nos trópicos.

Filha de família exterminada em campos de concentração nazista, Andujar pintava para lidar com a perda. Encontrou na fotografia uma forma de se comunicar com os outros ao seu redor, prática de sentidos e aproximação: “Não sou fascinada pela técnica: resolvo as questões técnicas quando elas se apresentam. Jamais estudei fotografia. Quando precisei fotografar dentro das escuras malocas yanomami, ocupei-me um pouco mais desses problemas”, técnica dando suporte à expressão.

No anos 70, a mítica revista Realidade pautou-a para um ensaio sobre a Amazônia: iria sem nenhum repórter, com o único pedido de não documentar populações indígenas, para não enfezar o regime militar. Mas foi embrenhar na mata e conhecer o povo de pés no chão e pele vermelha que Cláudia largou o fotojornalismo. Não dava do conta do amor que a arrebatou.

E como se refere a curadora Lisette Lagnado em um belíssimo artigo sobre a obra de Andujar, a fotógrafa de tantas terras dedicou-se a documentar o impronunciável. O olhar não é somente daquele que é surpreendido pela diferença, mas sim daquele que se apaixona e faz se apaixonar. É por sugestão do antropólogo Darcy Ribeiro que Cláudia conhece os Yanomami, povo de terras nas fronteiras ao norte da amazônia brasileira.

“São minha família”. Foi aceita, abertamente, aprendeu a falar a língua, participou de rituais sagrados e obscuros, entendeu a alegria de uma criança ao pular no rio e entrou na profundidade uma oca permeada da fumaça da fogueira. Quando foi expulsa pela FUNAI, trouxe sua militância ativa para São Paulo.

O relato fotográfico afetivo também tornou-se ferramenta de resgate da população enferma. Um surto de doença, devido ao contato com os garimpeiros, contaminou grande parte da população Yanomami. Os índios ganharam números no pescoço e um retrato de documentação. “Eles estavam sendo marcados para viver, não para morrer”. Cada retrato é uma expressão individual e sincera das pessoas fotografadas, seu sorriso e seu olhar desconfiado.

É vulnerável, o ser. Cláudia vulnerável aos encantos de uma selva que a engoliu permanentemente, de uma etnia que a recebe com tambores quando chega mas que também manda e-mails perguntando de sua saúde. Se família é quem se escolhe, Cláudia pintou-se de vermelho, os cabelos nasceram pretos, a língua é a mesma que ainda ecoa nas fronteiras equatoriais do norte do país.

 

 

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  • Jose Pedro Naisser

    Alo Claudia Andujar, soubemos a seu respeito na luta em favor dos Indios Ianomamis, isso por nos aproximar da longa jornada. Junte-se a nos. Parabens por seu ativismo.
    Jose Pedro Naisser. Ecologista. Curitiba.pr.

  • Nyara Guimarães

    Cláudia Andujá, uma verdadeira artista, com personalidade forte, mostrou-nos a verdadeira simplicidade dos índios, a realidade […] e através de suas fotografias realistas tocou-nos com uma sensibilidade, que chega na alma de seus contempladores. A qual dizia não ter técnicas, porem fascinou-nos!