Eduardo Coutinho

 

O Espaço Húmus se senta no escuro e olha, em silêncio, para a tela de um cinema memorável. Homenagear Eduardo Coutinho é assistir toda a sua filmografia.

Em seu início de carreira, empreendeu-se em reencenar a história de um líder camponês de Galileia, na Paraíba. A gravação do filme foi duramente repreendida pela ditadura militar. Quando Coutinho tornou a editar o projeto, percebeu a preciosa história que podia ser contada não apenas pelas cenas com atores, mas também por quem os inspirou: As pessoas reais. Nasceu Cabra Marcado para Morrer (1984).

E contar histórias virou ofício; desde os morros do Rio de janeiro onde fervilhava uma babilônia de vivências em Babilônia 2000 (1999) até os muitos andares do Edifício Master (2002), os úteros abertos das mulheres reais e atrizes de Jogo de Cena (2007). O vazio de um quintal, onde sua moradora dizia morar centenas de espírito em Santo Forte (1999).

Ele não era documentarista por perguntar, era por escutar; suas orelhas generosas eram as nossas, ouviam quem diz com vergonha ou quem grita com orgulho. A posição do espectador era ao lado do diretor, como em uma cadeira imaginável. A história de tantos, as dos vizinhos do apartamento acima, a pessoa que esbarra seu ombro na rua. Ainda que permeados por uma temática, a filmografia de Coutinho tinha como objeto de adoração a vida.

“Uma pessoa que fala para a câmera, é de uma beleza…”, dizia Coutinho. A beleza do comum, de alguém sentado e de Coutinho do outro lado, ouvindo atentamente.

 

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