Julio Le Parc

 

O olho é falho, o olho é seduzido, ele está em constante estado de encantamento pelos pequenos movimentos: o mosquito que voa perto da cabeça, a chama da vela, as inflexões de luz que varam paredes e vem de espelhos e água. A dança é sedutora e não é necessário que seja de corpos. Pode ser uma dança matemática, cinética. Pode ser a dança de feixes púrpuras de luz, ou ela simplesmente, amarela e bela. É a dança de Julio Le Parc.

A pintura era o limite, a beira, o penhasco a ser pulado. Julio Le Parc pulou-o desde muito jovem, estudando as pinturas monocromáticas de Vasarely e os movimentos implícitos nas telas de Kandinsky. Quando mudou-se para Paris para continuar seus estudos, em 1960, surgiram as primeiras experimentações com a luz e seus desdobramentos ópticos.

Luz e movimento não eram somente valores estéticos, mas também de combate sociopolítico. Le Parc e seu grupo de amigos não se conformavam com as rígidas regras do mundo artístico e o confinamento de obras de arte em museus, alcançando uma parcela mínima da população. Existe um público que vai para museus e se submete - como se submete a todos os aspectos da vida cotidiana - a um regulamento geral: ao trânsito, a polícia, a lei. Então eles vão ao museu e obedecem também (…) Suas opiniões nunca são levadas em conta). O desejo do grupo GRAV, chefiado por ele, era através da luz e do movimento criar um envolvimento maior com que vê a obra.

“Eu não acordei um dia e falei, vou fazer movimento e outro, vou fazer luz. O movimento e a luz foram surgindo de necessidades específicas”. As máquinas escondidas e com precisão matemática de Le Parc são geradoras de uma luz onírica, que toma conta de paredes e espaços, hipnotizando o olhar. São balés românticos e quem está entre a luz e a paredes também é convidado a dançar. Ainda hoje, o artista, depois que cria suas obras, ainda passa um longo tempo fitando-as, abasbacado com os efeitos diversos que pode produzir.

Le Parc tem uma relação diferenciada com o mercado das artes; nunca se curvou as grandes galerias, e já chegou a decidir se iria expôr ou não com a jogada de uma moeda. Seus móbiles de luz tem que alcançar todas as pessoas, desde as crianças que consideram uma exposição enfadonha ao adulto que trabalhou o dia inteiro e encontra nos reflexos nas paredes uma lugar para descansar a sua mente.

Pablo Neruda uma vez escreveu: “Eu apenas saberia que um Rembrant está em casa, enquanto uma obra de Le Parc me encheria constantemente de satisfação”.

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