Cildo Meireles

 

“Lá pelos anos 1970 passou-me pela cabeça que, se um asteroide chocasse fatalmente com a Terra, ele destruiria as coisas grandes, mas não as coisas pequenas”; e se é pequeno dentro das obras de Cildo Meireles, se é formiga. E também se é ativo. É preciso estar no meio para que a peça exista completamente.

Esteve na sala de parto da arte conceitual brasileira. Arregalou os olhos à primeira exibição de A Casa é o Corpo de Lygia Clark e também se enveredou pelos labirintos abrasileirados da Tropicália de Oiticica. Os desenhos são base e formação, mas precisava sair do bidimensional, criar um processo de envolvimento. Como um Duchamp brasileiro mais despojado Cildo encontrou no objeto o desejo e no espaço a brincadeira.

Exemplo disso é sua primeira obra, Desvio para o Vermelho. É toda a segurança e organização do avesso. É a sala do sofá e da TV, tudo vermelho, cor de contestação e do incômodo. As salas que seguem partir daí levam todos ao mesmo ponto de partida, a idiossincrasia doméstica. Entrar nela é ficar no anseio da dúvida, o porquê da cor, o porquê da pia torta que jorra água vermelha.

A carga política e social de sua obra tem a ver com uma experiência de castração; quando mais jovem, foi convidado a participar de uma exposição que não aconteceu por intervenção policial, alegado por um teor subversivo. Cildo percebeu a importância de impregnar a política em suas obras, não panfletária, abstrata. Queimando galinhas em um mastro ou carimbando notas de dólar, o grito é potente.

As instalações nascem tanto de pesquisa quanto da leviandade do momento. Cildo afirma que artes visuais não definem seu trabalho, e sim muito mais as artes plásticas, pois também se utilizam de som e tato. Em Missão/Missões (Como Construir uma Catedral), o artista cria uma meca com sua relação já antes explorada ante a supervalorização do dinheiro, erguendo um monumento com 600.000 moedas de 1 centavos, ossos e hóstia.

É contestação do espaço e é o corpo, sendo engrenagem que movimenta a obra constantemente. A minúscula caixa de madeira que um menino devorou em uma exposição e a torre gigantesca de rádios sintonizada como uma babel moderna. O universo de grandes e pequenas coisas de Cildo Meireles.

Tags, , , , , , ,