Laura Vinci

 

Tempo da maçã que apodrece, tempo da lesma, a areia que é a granulação do tempo, o tempos dos mortais e dos espíritos que habitam livres as transmigrações dos materiais terrentos. Sente-se e espere. Do prédio vai escoar areia fina, como uma ampulheta da sua idade. Das bacias no chão, o vapor, a dança da água que ascende. Laura Vinci tem nas mãos o tempo, e o dá de presente aos seus objetos.

Primeiro foi no chão, nas paredes, rastejando. Laura Vinci fez dos objetos os obstáculos, da cor de que eram feitos. Que o cobre seja cobre, o branco da bacia o branco da bacia, o bronze das pretas no solo. Já era então um tempo todo só dela, o dos moluscos, os de natureza não apressada. Ela que começou como desenhista é escultora de um balé de preguiçosos: As esculturas agachadas no espaço branco da obra As Pretas.

Meu trabalho é o espaço, meu objeto de trabalho é o espaço, ela defende. Os materiais, ainda que diferentes, são todos gêmeos do tempo, porque acusam passagem. As maçãs que morrem cheirosas em Ainda Vivas de vermelhas vão se tornando marrons. As águas que evaporam das bacias para dentro dos poros em Mona Lisa. O tempo não é mais invisível.

Então Laura cria suas obras em larga escala, os seus pequenos grandes mundos. É como se quisesse dar a Cronos, a divindade grega do tempo, uma morada que envelhecesse bela. Ele poderia muito bem habitar a instalação Máquina do Mundo, seu trono em um reino de granizo ralado que é uma metáfora para um planeta que é feito de passagem.

A artista diz que o material fala muito, que tem a voz dele. Que voz então tem Clara-Clara, as luzes suspensas, inalcançáveis, portanto belas, ou que voz tem a obra No Ar, que é névoa e pode ir a qualquer lugar. É a voz do que se crê inanimado, mas que Laura Vinci escuta.

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